A comunidade da Paróquia de Sant´Ana está em festa. Nesta terça-feira (22), o secretário de Cultura, Márcio Meirelles, entregou pessoalmente ao padre José Abel Pinheiro a imagem de São Benedito com o Menino Jesus, em madeira do século 18, completamente restaurada.

“É um momento muito especial para nossa paróquia, que está precisando de ajuda”, afirmou o pároco, justificando que o local é “um verdadeiro museu por possuir obras importantes”. Ele agradeceu, dando a benção a toda equipe do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), responsável pelo trabalho.

A imagem de 1,23 metros que foi destruída pelo desempregado e evangélico Marcos Vinícius Santos Catarino, 31 anos, adepto da Igreja Universal que considerou o santo um “demônio”, está protegida agora numa redoma de vidro, na sacristia, com seis banners onde constam fotos e dados que explicam o passo a passo do processo de restauração.

“Restaurar faz parte do nosso dia-a-dia. No Ipac, trabalho na parte de restauração. Para mim, a parte mais difícil de um trabalho não existe, a cada dia aprendo uma coisa nova. No caso da restauração do São Benedito, a parte do olho deu trabalho porque o original quebrou. Tive que fazer um recapiamento para o olho ficar no lugar”, explica Francisco Bastos dos Santos, restaurador do Ipac, que fez parte da equipe de 24 profissionais responsáveis pela restauração da obra. Francisco se orgulha de ter o mesmo nome do suposto escultor da imagem de São Benedito com o Menino Jesus, Francisco Manoel de Chagas, conhecido como o Cabra, escultor famoso do século 18.

Técnica especial

Para restaurar as vestes franciscanas da imagem, foi utilizada uma técnica conhecida como “burel”, que existe no Brasil desde o século 18 e consiste em molhar numa mistura especial, um pano grosseiro ou uma lã de má qualidade – geralmente os hábitos dos monges – para depois aplicá-lo à estátua.

O painel onde o santo ficava e que também foi destruído, está sendo restaurado pelo Ipac e deve demorar mais alguns meses para ficar pronto. “Estamos recuperando todo o altar e descobrimos uma pintura original por baixo de outras camadas de tinta”, explica Kátia Berbert, coordenadora do Centro de Restauro do Ipac.

Construída em 1760, a Igreja de Sant´Ana deu abrigo aos revoltosos que lutaram contra a Coroa Portuguesa pela independência do Brasil. No seu cemitério estão enterrados os restos mortais da heroína da independência baiana, Maria Quitéria. A igreja também serviu de moradia para Irmã Dulce, que, nesse período, descobriu sua vocação para o catolicismo. Desde 1941 a igreja é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como patrimônio brasileiro, juntamente com a imagem de São Benedito.