“Nós queríamos um País e um governo soberano, independente, um país que fizesse rupturas”, esta frase de Chico Pinto resume a motivação de sua histórica e emblemática luta pela redemocratização do Brasil nos anos 60, 70 e 80.
O corpo do ex-deputado federal, morto na terça-feira (19), em Salvador, em função de uma infecção generalizada provocada por um câncer, foi sepultado no início da noite de hoje (20), no cemitério da Piedade, em Feira de Santana, cidade onde nasceu em 16 de abril de 1931. O corpo foi velado na da Câmara de Vereadores de Feira de Santana, na presença de antigos companheiros de luta e de gente do povo.
“Ele foi um grande prefeito, implantou serviços como o carro do lixo e a farmácia do povo, e teria feito um grande governo se não fossem as forças armadas”, desabafou o aposentado Felinto Filho. Para o escriturário Fanael Ribeiro, “foi um democrata e socialista e inovou a administração pública na Bahia e no Brasil ao realizar obras no subúrbio de Feira de Santana”.
O governador Jaques Wagner chegou por volta das 15h, abraçou a viúva Taís Alencar e a única filha do casal, Taís Alencar Pinto dos Santos, e depois falou com a imprensa. “Vim como governador da Bahia e como um admirador pessoal do Chico. Considero que ele era merecedor de todas as homenagens, dos democratas e de todos os que pensam num Brasil justo e com inclusão social. Era um exemplo”, arrematou.
Emocionado, o ex-governador Waldir Pires lamentou a perda de um amigo pessoal e de um companheiro de conversas habituais. “Chico nunca variou em seus ideais. Insistiu neles, lutou por eles e pagou o preço com a sua própria prisão, porque aspirava à uma pátria livre e decente”, disse o ex-governador.
De Pernambuco, vieram o ex-ministro Fernando Lyra (com quem Chico Pinto fundou o grupo dos Autênticos do então MDB), o governador Eduardo Campos e o deputado federal Carlos Wilson. “Tive a honra de conhecer o Chico ainda criança e depois, adolescente, escutava as conversas que ele tinha com o Dr. Arraes (seu avô). Mais tarde, tornei-me seu amigo. Era um homem corajoso, fraterno, coerente, que marcou a vida política brasileira num momento muito duro”, disse Campos.
Também estavam presentes o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, o vice-governador da Bahia, Edmundo Pereira, o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro, deputados federais baianos e secretários de Estado, como Jorge Solla e Fernando Schmidt.

Cassado duas vezes

O advogado Francisco José Pinto dos Santos entrou para a política em 1950, quando eleito vereador de Feira pelo extinto PSD. Em 1962 elegeu-se prefeito, mas só governou por um ano e 29 dias, até ser cassado em maio de 1964 pelo regime militar que se instaurou no Brasil com ditadura e cerceamento das liberdades. Voltou a exercer cargo eletivo, literalmente, nos braços do povo, ao ser eleito deputado federal em 1970.
Teve novamente seus direitos políticos suspensos em 1974, após proferir um bravo discurso no plenário da Câmara dos Deputados denunciando as atrocidades cometidas pelo general chileno Augusto Pinochet, que estava no Brasil para a posse do presidente Geisel. Por esse motivo foi mantido preso por seis meses, não podendo concorrer nas eleições de 74. Voltou ao cargo de deputado federal em 78, pelo MDP, e em 82 e 86 pelo PMDB. Vale destacar que Chico Pinto se recusou a aceitar o indulto dos militares, sendo fiel aos seus ideais e ética.