Uma visão moderna dos tratamentos psiquiátricos está norteando a implantação do novo modelo de atendimento de beneficiários do Planserv, que enxerga o transtorno mental como um problema psicossocial, e não apenas médico. O programa está sendo desenvolvido pela Coordenação Médica do Planserv e os pacotes que estão sendo propostos preveem uma ação sobre o paciente e sua família, utilizando como principais ferramentas a terapia ocupacional e a psicoterapia.

O primeiro mês da implantação do programa coincide com a comemoração do Dia Mundial da Saúde Mental, neste sábado (10). A data celebra os avanços nas chamadas reformas psiquiátricas, que se deram a partir das décadas de 70 na assistência à saúde do portador de transtornos mentais em todo do mundo.

Hoje o Planserv conta apenas com o Sanatório São Paulo para o atendimento aos pacientes, mas a meta é aprimorar o modelo para lançar edital nos próximos meses para o credenciamento de outros prestadores utilizando este novo modelo.

O programa piloto de saúde mental remunera melhor seus prestadores e passa a compreender a assistência psiquiátrica como um tratamento aberto e crônico em hospital-dia, substituindo o antigo modelo de internação pontual.

“Com essa proposta de atendimento, estamos nos inserindo na reforma psiquiátrica, aproveitando a concepção que vem sendo aplicada pelos centros e atenção psicossocial (Caps) há mais de 15 anos no Brasil”, explicou o psicólogo Lucas Portela, da Coordenação Médica do Planserv.

Ditadura militar

Nos Caps, os tratamentos são feitos durante o dia e os pacientes voltam para casa à noite. As ações incluem oficinas de geração de renda e relação com a comunidade. Entre os pacientes, surgiram artistas e principalmente pessoas capazes de viver e administrar sua própria vida, apesar de serem tidas como loucas.

Portela disse que a experiência brasileira para dar assistência mais digna a pacientes psiquiátricos esteve muito ligada à luta contra a ditadura militar, porque os manicômios foram um símbolo de repressão social e política.

Mas, segundo ele, cada país encarou a questão de forma diversa. “A Itália, nos anos 60, com Franco Baságlia, fez da desospitalização antimanicomial uma bandeira democrática e socialista, e uma forma de mudar a lógica das cidades, e não apenas do sistema de saúde. A França optou pela inserção da psicanálise em todas as áreas e níveis de assistência. A Inglaterra apostou no acompanhamento sistemático e transgeracional de sua população”, afirmou.