Ainda neste mês, Salvador passa a contar com um serviço clínico-cirúrgico especializado em doenças do fígado. Trata-se da Unidade de Alta Complexidade em Hepatologia Professor Gilberto Rebouças (Unacoh), localizada no Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), o Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia, que está sendo implantada com recursos do Fundo Nacional de Saúde/Ministério da Saúde e da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab).

Segundo o médico hepatologista Raymundo Paraná, chefe do Serviço de Gastro-Hepatologia do Hupes e presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) da Bahia precisavam dessa estrutura.

“Até então, embora o estado se destaque como um dos polos mais produtivos do país na área da hepatologia, tínhamos sérias dificuldades no atendimento desses pacientes portadores de doenças do fígado na rede pública”, afirmou Paraná.

Ele disse que praticamente só o Hospital das Clínicas atende a alta complexidade em hepatologia, que inclui não só os pacientes crônicos com doença hepática avançada, o câncer de fígado, como também o transplante hepático.

O Grupo de Transplante Hepático do Hospital das Clínicas, coordenado pelo médico Jorge Bastos, já realizou mais de 120 procedimentos, com taxa de sobrevida superior a 80%.

“Infelizmente, pelas dificuldades de infraestrutura, os pacientes acompanhados pelo grupo na unidade necessitam realizar o procedimento em outros hospitais privados conveniados ao SUS. Hoje, há um convênio entre o Hupes e o Hospital Português, e os pacientes acompanhados no ambulatório do Hupes realizam o transplante e o acompanhamento pós-transplante naquela unidade. O novo serviço possibilitará que todo o acompanhamento, até o transplante hepático, possa ser realizado no próprio Hospital das Clínicas”, explicou o hepatologista.

Além disso, o serviço proporcionará aos usuários do SUS acesso mais fácil às terapêuticas clínicas e cirúrgicas das doenças hepáticas. Segundo Paraná, trata-se de uma das mais importantes realizações dos últimos anos no serviço público da Bahia, “uma vez que a demanda reprimida de portadores de doenças hepáticas sem atendimento qualificado pode ser facilmente constatada”.

A Unacoh terá 22 leitos, sendo seis de terapia semi-intensiva, destinados ao pós-operatório de cirurgias do fígado. Terá ainda dois leitos reservados para transplante hepático e suas intercorrências, além de um leito de procedimento.

Paralelamente, a Sesab continuará investindo, através de recursos, para a reforma do Serviço de Endoscopia, que será um dos melhores do país. “Já existe um projeto, em fase de avaliação no Ministério da Saúde, para dotar o Hospital das Clínicas do que há de mais moderno em termos de endoscopia e hemodinâmica para tratamento das doenças hepáticas”, anunciou Paraná.

Mutirão para biópsia
Outra importante ação desenvolvida por meio de uma parceria entre o Hupes, a Sesab e o Ministério da Saúde, via Programa Nacional de DST/Aids e Hepatites Virais, é o mutirão de biópsia hepática, que vem sendo realizado há pouco menos de dois anos.

Até agora, foram feitas 620 biópsias hepáticas, cerca de 80% desse total atendendo os portadores de Hepatite C. Foram avaliados 1.200 pacientes com solicitação de biópsia, mas nem todos realizaram o procedimento, por questões de indicação ou por contraindicações pertinentes a cada caso.

O hepatologista afirmou que a Bahia é privilegiada no que se refere à biópsia hepática. “Não temos mais lista de espera para o procedimento, ao contrário de outros estados, onde existem pessoas que esperam mais de um ano”, contou.

A biópsia hepática, conforme Paraná, é um procedimento relativamente simples, mas exige a internação hospitalar do paciente, de forma eletiva, com permanência por 12 a 24 horas.

O mutirão para biópsia hepática, adotado de forma pioneira na Bahia, é realizado aos sábados, em leitos não-utilizados durante os finais de semana das clínicas ginecológica, oftalmológica e cirúrgica do Hupes. No dia seguinte (domingo), os pacientes recebem alta. Em média, são feitas entre cinco e 12 biópsias a cada final de semana, período em que, para eventuais intercorrências, a clínica cirúrgica permanece de sobreaviso.