O litoral sul da Bahia possui uma extensa área de manguezais, peculiaridade que contribui para a exploração natural de um novo produto ligado à área apícola – a própolis vermelha. A substância é produzida pelas abelhas principalmente a partir da resina de uma planta muito comum nos mangues da região, a Dalbergia ecastophyllum, conhecida popularmente como rabo-de-bugio ou rabo-de-bugí.

Ao analisar essa característica regional, aliada ao alto valor de mercado da própolis vermelha, que pode ser comercializada por até R$ 450, o quilo -, e a pequena exploração do produto na região, a Secretaria da Agricultura (Seagri), por meio da gerência regional da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) de Itabuna, começou, no ano passado, a incentivar os apicultores da região a trabalhar com esse produto, para aumentar a geração de renda familiar.

O técnico da EBDA do escritório de Ilhéus, Welton Clarindo, vem buscando atualizações sobre técnicas e manejos para a alta produtividade, junto a apicultores que trabalham desde 2007 com a própolis vermelha na região, repassando-as para os iniciantes. “Essa produção não é bem difundida entre os apicultores daqui. Na nossa região, pode-se chegar a três vezes mais o volume produzido por colmeia de outros estados”.

Há quem pense que a planta, da qual é retirada a resina, só existe no estado de Alagoas, o que, segundo o técnico da EBDA, é um mito, pois pode ser encontrada desde o sul do estado de São Paulo até o norte da Flórida, e também em regiões costeiras da África. Porém, somente no Nordeste brasileiro ocorre a exsudação (sangramento) natural da resina.

Treinamento

O produtor João Carlos de Souza, administrador da Fazenda São Jorge, localizada no município de Uma, região de Maruí, é um dos apicultores que recebem assistência técnica da EBDA para a produção da própolis vermelha. Ele diz que a Bahia tem potencial para se tornar, a curto prazo, o maior produtor de própolis vermelha do Brasil. “Seguindo à risca as orientações na execução das práticas, o resultado é colheita certa”.

Apicultores treinados e trabalhando com a própolis vermelha atuam em pelo menos seis municípios do litoral sul baiano. De acordo com o técnico Clarindo, o grupo é formado por 21 produtores, sendo a produção mensal estimada em torno de 20 quilos, quantidade ainda considerada pequena se comparada com outros produtos apícolas da região. A maior parte da produção é vendida para uma empresa, que exporta principalmente para o Japão.

Atuação pioneira

O biólogo e apicultor Jean Carvalho, do município de Canavieiras, é o pioneiro dessa produção na região. Segundo ele, a própolis vermelha do sul da Bahia faz sucesso no mercado por ter uma alta qualidade e ser produzida sem interrupções durante todo o ano. “O valor anual que eu arrecado com a própolis vermelha é 10 ou 12 vezes superior ao obtido com a produção de mel”, diz o produtor, que abandonou a produção de mel e hoje só trabalha com a própolis vermelha.

Enquanto a própolis vermelha é utilizada pelas abelhas para selar as frestas das caixas e proteger as colmeias contra fungos e bactérias, o homem vem desenvolvendo pesquisas em dois sentidos – nos Estados Unidos, no tratamento dos sintomas neuro-vegetativos da tensão pré-menstrual (TPM) e da menopausa, e no Japão, na minimização dos efeitos dos radicais livres. Devido a essa grande ação terapêutica, a própolis vermelha tem alto valor comercial, com uma diferença de preço, em relação à própolis comum, de até R$ 410.