Cento e setenta operários já trabalham na construção do Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP), no município de Maragogipe, Recôncavo baiano. A obra está na fase inicial, com a realização dos serviços de supressão da vegetação, resgate da fauna e flora e terraplanagem. É o maior investimento da iniciativa privada na Bahia e na área da indústria naval com execução iniciada no Brasil, sob o comando de um consórcio formado pelas empresas Odebrecht, OAS, UTC e Kawasaki.

A conclusão dos trabalhos está prevista para 2014, e até lá serão investidos R$ 2 bilhões na construção e contratação de mais de três mil operários. Quando o EEP estiver pronto, o estado ganhará mais um ponto de produção de navios e plataformas de exploração de petróleo, reaquecendo a economia do Recôncavo e recolocando a Bahia no mapa da indústria naval brasileira.

O governo do Estado apoia o empreendimento com obras de infraestrutura rodoviária, além de auxílio na obtenção do financiamento, que é do governo federal, por meio do Fundo de Marinha Mercante. Ainda como parte dos esforços para resgatar a indústria naval, foi criada em 2009 a Secretaria Extraordinária da Indústria Naval e Portuária (Seinp), que centraliza as ações do estado voltadas à viabilização de empreendimentos na área.

Encomendas

De acordo com o secretário da Indústria Naval, Carlos Costa, o novo estaleiro baiano terá tecnologia e capacidade para atender aos mercados nacional e internacional. “O empreendimento terá condição de oferecer em tempo hábil equipamentos de ponta para todos os mercados. As empresas vão trabalhar com toda a tecnologia e atenderão não só encomendas de embarcações para a indústria naval civil, mas também para a indústria militar”.

Antes mesmo de começar a operar, o estaleiro já recebeu a encomenda de seis sondas de exploração de petróleo. As unidades fazem parte de um contrato com a Sete Brasil, empresa fornecedora da Petrobras. A estimativa dos empresários é de um faturamento anual de R$ 600 milhões.

Reabertura do São Roque Paraguaçu aquece economia do Recôncavo

A foz do Rio Paraguaçu, na Baía de Todos-os-Santos, é considerada um dos melhores lugares do país para a implantação de estaleiros. Com águas profundas e abrigadas, foi lá que a fabricação de navios teve início no Brasil. “A Bahia é o berço dessa atividade, que começou com a chegada de Dom Pedro ao Brasil”, afirmou o secretário Carlos Costa.

Ele explicou que durante muitos anos o estado prosperou na área, principalmente na década de 1970, “mas logo depois houve uma paralisia e agora voltamos a revitalizar a atividade”.

O início da retomada aconteceu em 2010, com a reabertura do Estaleiro São Roque do Paraguaçu, que já finaliza a construção de duas plataformas para a Petrobras. Mesmo com dimensões e capacidade menores que o Estaleiro Enseada do Paraguaçu, o São Roque já mexe com a vida dos moradores e com o comércio de cidades como Maragogipe e Nazaré das Farinhas. São cerca de três mil pessoas trabalhando e o efeito disso é percebido pelos lojistas.

Em Maragogipe, de onde partem alguns ônibus com operários todos os dias para o estaleiro, é fácil encontrar comerciantes que confirmam a melhoria das vendas. Para Rita Barbosa, proprietária de um pequeno mercado, “a cidade era mais parada e agora com o estaleiro parece que acelerou”.

Rita disse que tem mais gente circulando, o que foi bom para o seu comércio, porque aumentou o poder de compra dos moradores. “Ganhei clientes que têm o cartão de alimentação da empresa e fazem compras aqui, esses passaram a frequentar meu mercado depois do estaleiro”.

Para quem trabalha no Estaleiro São Roque do Paraguaçu, o emprego e o crescimento econômico proporcionado pela indústria naval na região são motivos de orgulho. “Eu aprendi uma profissão lá dentro, tenho a vantagem do plano de saúde, da segurança, cobertura de tudo e a empresa dá 100% de apoio. Estou noivo e a casa em construção prestes a terminar, o próximo passo é o filho”, disse o mecânico montador Uliam Costa, morador de Nazaré das Farinhas.

Além do salário dos trabalhadores, a contratação de serviços locais de transporte, alimentação e fornecimento de equipamentos vai beneficiar pelo menos cinco cidades da região, mas a área de influência pode ser considerada muito maior, com até 15 municípios. A expectativa é que o crescimento econômico e o desenvolvimento social associado à atividade de fabricação de navios, sondas e plataformas de exploração de petróleo dobre na região com a chegada do EEP.

Cuidados ambientais

Para evitar que o crescimento seja desordenado e traga impactos negativos tanto na área ambiental como social, o EEP está cercado de todos os cuidados. O consórcio responsável pelo empreendimento realiza estudos e licenciamentos e de acordo com a gerente de sustentabilidade do EEP, Caroline Azevedo, desde 2008 vêm sendo realizados encontros com as comunidades locais para definir ações que permitam a inclusão dessas pessoas.

“Além do licenciamento clássico ambiental, fomos licenciados também pelo patrimônio histórico, por meio do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], pela Fundação Palmares, pela característica de estarmos dentro de uma comunidade quilombola; pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, por estarmos vizinhos a uma área de proteção federal; e pelo Estado, por estarmos dentro da APA [Área de Preservação Ambiental] Baía de Todos-os-Santos”, disse Caroline.