Comunidades de Gerazeiros, povos que habitam a região dos gerais, no cerrado baiano, participaram do terceiro Encontro pelas Águas de 2009, em Santa Maria da Vitória, no oeste do estado, para debater os problemas que envolvem rios e bacias do local onde vivem.

O evento, encerrado nesta quinta-feira (24), no Centro Social de Múltiplo Uso Enéas Carvalho, faz parte de uma série de reuniões temáticas, com a escuta dos problemas socioambientais que afligem os participantes, e tem por objetivo ampliar o diálogo do Governo da Bahia com povos e comunidades tradicionais para o fortalecimento da gestão participativa das águas.

Os Gerazeiros, vindos de mais de 14 municípios baianos – dentre eles, São Félix do Coribe, Tabocas, Santana, Canápolis, Serra Dourada, Ananás, Barreiras, Formosa do Rio Preto, Cocos, Correntina, Coribe, Luiz Eduardo, Santa Maria da Vitória – participaram de uma intensa jornada de atividades para discutir, de modo democrático e participativo, a situação dos rios da Bahia, especialmente os da bacia do Corrente, Rio Grande e do Rio São Francisco, que cortam o oeste baiano.

Durante a plenária, o diretor geral do Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá), Julio Rocha, ressaltou o enfoque em atenção às comunidades de Gerazeiros presentes. “O Governo do Estado já levou a dois milhões de baianos, o acesso à água, por meio do Programa Água Para Todos. É um marco nesta gestão, que tem como prioridade aprofundar a nossa relação com as comunidades tradicionais que tanto precisam de acessibilidade hídrica”.

“O Encontro com os Gerazeiros vai propiciar uma política definitiva com esses que foram historicamente esquecidos dos processos de decisão e esse é o momento para se construir uma nova história para o futuro. Fazer uma política de gestão participativa requer passar por muitas dificuldades e muitas etapas, mas que podemos superar”, afirmou o diretor administrativo e financeiro do instituto, Sóstenes Florentino. A plenária estava formada por representações do poder municipal, estadual e federal, de instâncias de participação social e sociedade civil.

Fortalecimento da cultura local

Primeiros a serem atingidos pelos impactos socioambientais da agroindústria e dos efeitos das mudanças climáticas, os gerazeiros puderam, durante o encontro, afirmar as suas raízes de povo tradicional e criar redes de integração.

“Sou da comunidade de gerazeiro e ribeirinho do rio Ladeira, que também tem povos quilombolas. Aqui, a gente encontra uma diversidade de culturas e mantém contato com pessoas de outros municípios. É um meio de interação que pode gerar bons frutos”, disse Cristiano Guedes, do município de Formosa do Rio Preto.

De acordo com o diretor geral do Ingá, o encontro representa a oportunidade dos gerazeiros ocuparem espaços de democracia e de fortalecimento da cultural local. “Nós precisamos avançar na perspectiva sustentável para os gerais e pensar um modelo de desenvolvimento que englobe a qualidade de vida, a sustentabilidade e que reconheça e fortaleça a autoestima e a cultura dos gerazeiros”.

Para Emílio Alves, gerazeiro do Ananás, já é possível sonhar com um futuro melhor. “Eu amo os gerais e agora eu criei fé nesse encontro. Se o Governo descobriu que a gente pode se desenvolver, o nosso futuro pode ser mais ou menos como a gente quer e a gente vai chegar lá”.

Encaminhamentos

Nesta quinta, os participantes integraram grupos de discussões para a elaboração da Carta Pelas Águas. Eles abordaram eixos que trabalharam os temas Combate à Desertificação e Mudanças Climáticas, Revisão da Política Estadual de Recursos Hídricos, Controle Social e Instâncias de Participação, Água e Políticas Públicas, Água como Direito Ambiental e Direitos Humanos e Fundo Estadual de Recursos Hídricos.

O documento será entregue ao governador Jaques Wagner com todas as demandas do segmento. Eles também elegeram o Conselheiro das Águas, que tem o papel de acompanhar todas as demandas registradas nas Cartas Pelas Águas dos Gerazeiros.

Na abertura, quarta-feira (23), foram lançados os Anais do Seminário Olhares Sobre a Revitalização da Bacia do Rio São Francisco, publicação que leva à sociedade, as contribuições e mediações de conflitos realizadas pelo Grupo de Trabalho do Comitê do São Francisco, composto por diversas secretarias do Estado. O próximo Encontro Pelas Águas será nos dias 16 e 17 de outubro, no município de Itiúba, com as comunidades de fundo de pasto.