Sérgio, Mário e João não têm apenas o sobrenome ‘Machado’, em comum. Eles mantêm a esperança de dias melhores, apesar da seca que castiga a região. Por meio do cultivo da palma, os três agricultores familiares estão enfrentando a estiagem usando a cactácea (palma) para alimentar os animais, com orientação dos técnicos da Gerência Regional da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), em Irecê.

Para o diretor de Pecuária da EBDA, Marcelo Matos, nessas situações, o segredo está no conhecimento técnico e utilização correta da palma. “Em qualquer parte do mundo, o êxito da pecuária passa por uma agricultura forte e tecnificada. A palma é um alimento rico em carboidrato, que produz muito, utilizando pouca água. A planta ajuda o agricultor ter uma reserva suficiente para manter o rebanho, num período de até seis meses”.

A planta, considerada o ‘tesouro’ do semiárido baiano, é utilizada para alimentação dos animais como alternativa de convivência com a seca. A EBDA, como órgão responsável pela prestação de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) pública aos agricultores, vem disseminando informações sobre a utilização da palma, e intensificou a orientação, neste período, em todas as regiões vulneráveis.

Modelo

A Fazenda Canavieira, localizada no Povoado de Uibaí, em Irecê, é considerada modelo na região, em matéria de palma. O proprietário, Sérgio Machado Maciel (46), mantém 26 animais, entre vacas de leite, bezerros, novilhas, cabras, e ainda aves, em 11 hectares de terra.

Segundo o produtor, ele retira diariamente 26 litros de leite. Para assegurar a alimentação dos animais e ao mesmo tempo conviver com a seca, Sérgio resolveu investir na plantação de palma adensada, irrigada, distribuída em três hectares, que oferece uma produtividade de mais de 400 toneladas por hectare/ano, com economia de 90% de água, em média. “Até janeiro tenho alimentação para manter todo meu gado, independente da chuva”.

Ainda de acordo com o produtor, a falta de chuva no semiárido é uma realidade já conhecida. “Eu busquei me preparar para evitar uma situação mais difícil. A partir dos cursos oferecidos pela EBDA, sobre derivados do leite, aperfeiçoei em qualidade a minha produção”.

Merenda escolar

As capacitações resultaram, por exemplo, na venda do doce de leite a fábricas da região, e o fornecimento para a merenda escolar, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que é uma política pública do governo federal, que tem como objetivo atender às necessidades nutricionais dos alunos de escolas públicas, durante sua permanência em sala de aula. A Lei nº 11.947/2009 determina que, no mínimo, 30% da alimentação escolar correspondam a produtos oriundos da agricultura familiar.

“Sabemos que praticamente não tem água, mas, quero estimular outros agricultores, mostrando que é possível se adaptar a esta realidade, utilizando como alternativa o cultivo e reserva da palma para alimentação de muitos animais”, diz o agricultor.

Todo esforço dos agricultores por amor aos animais

Filhos, pais, produtores e esperançosos. Os irmãos Mário Machado (43) e João Machado (44) são ligados pelo sangue e pelo amor aos animais. “Aprendi com meu pai que lutar é o início, o meio e fim para alcançar uma vitória”, afirma o morador do povoado de Baixa Verde, município de Presidente Dutra, em Irecê.

Casado, pai de dois filhos, o produtor cria 23 vacas no rebanho, sendo oito leiteiras. João se preparou para alimentar os animais com silagem de milho, palma e capim. Atualmente, o produtor utiliza 70% da palma e 40% de capim.

Unidade experimental

“Há quase quatro anos comecei a plantar palma para alimentar meus animais, através das orientações da EBDA. Com isso, aumentei a minha produção de leite, e por dia, são 120 litros”, explica o agricultor. Com a produção, ele fornece alimentação para escolas municipais, via o PNAE. A regra do produtor é colocar a prática o dito popular ‘quem guarda, tem’. Por isso, ele conserva a água captada da chuva em um reservatório com 12 mil litros.

Na propriedade de João Machado foi instalada uma Unidade Experimental de Palma, em parceria com a EBDA, acompanhada pelo técnico Arnou Dourado, em outubro de 2010. No local, é produzida palma gigante, doce, orelha de onça, sem espinho ou mão de moça. “A palma tem propriedades maravilhosas para a alimentação animal e é extremamente adaptada ao semiárido”.