A Comunidade Quilombola de Parateca, localizada a 899 quilômetros de Salvador, está em festa. A banda de pífanos, tradição de mais de 300 anos, comemora a conclusão do ensino médio de 19 jovens e adultos da comunidade. Com a ajuda da tecnologia, professores de Salvador ensinam a 88 estudantes de Parateca e região, por meio de aulas transmitidas via satélite e em tempo real. Trata-se do projeto Ensino Médio com Intermediação Tecnológica (Emitec), iniciativa da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, que assegura o ensino médio à população em áreas remotas da zona rural.

“O projeto veio pela dificuldade – de transporte e alimentação – que os alunos enfrentavam para chegar até Malhada, cidade a 85 quilômetros. Aqui eles têm o mesmo suporte que têm os alunos de escolas convencionais. A diferença é que as aulas acontecem pela tela, mas eles usam uniformes, têm as mesmas disciplinas, com boletins e notas”, explica a diretora do Colégio Luis Eduardo Magalhães, Rosangela Maria Ramos de Oliveira Costa.

A iniciativa mudou a vida de Lindinalva Aragão, 40, que cursa o 3º ano. “O projeto foi importante demais. Trouxe muitos benefícios para nossa comunidade. Já temos colegas que estudaram aqui e passaram no vestibular, inclusive minha filha. Jamais conseguiríamos se tivéssemos que estudar presencialmente em Malhada, com todas as dificuldades que temos para chegar lá”.

Escolas-mães

A solenidade em Parateca aconteceu no último sábado (12), às 19h, e contou com a presença do subsecretário da Educação do Estado, Aderbal de Castro, e do prefeito do município, Gimmy Everton Morarias.

De acordo com Aderbal, na Bahia, já existem 730 salas de aula, extensões de escolas-mãe, que ficam nas sedes municipais e oferecem aulas presenciais em diferentes localidades. “Destas 730 temos 400 com Ensino Médio com Intermediação Tecnológica. Nossa meta é ampliar até 2014 o programa para as 730 salas e agregar mais 270, completando mil até 2014”.

A cidade mais próxima da localidade fica a 89 quilômetros. Por conta da dificuldade de deslocamento desde 2009 todos os jovens da comunidade cursam o ensino médio em três turnos, por meio das tele-aulas. Cristiano Costa está entre 3.500 estudantes que se formaram em 2012 pelo programa estadual (Emitec), em 140 localidades rurais do estado. “Fico muito alegre de estar aqui hoje formando, muito emocionado. Confesso que no começo nós estranhamos um pouco, por não ter um professor presencial, mas logo depois nos acostumamos, e para quem quer chegar ao sucesso não existem dificuldades.”

Esta é segunda formatura realizada pelo Emitec em Parateca, que conta com três mil habitantes e, assim como Malhada, desenvolve especialmente o cultivo de algodão, além
de milho, feijão e mandioca, com a agricultura de subsistência.

Mediadores do local acompanham a frequência e as avaliações dos alunos. É o caso de Alisson José pereira Neves. “A maioria dos alunos aqui é carente e a partir do momento que o projeto foi implantado na região conseguimos diminuir a evasão escolar, e mantê-los frequentando as aulas. Muitos não conseguiam se deslocar. E uma das vitórias foi conseguirmos formar a primeira turma no ano passado aqui. Esta é a segunda a se formar, o que nos deixa muito felizes”.

Projeto com tecnologia de ponta é referência para outros estados

Os conteúdos do projeto Emitec são veiculados por intermédio de uma moderna plataforma de telecomunicações, com uso de solução tecnológica, que inclui possibilidades de videoconferência e acesso simultâneo à comunicação interativa entre usuários empregando IP (Internet Protocol) por satélite VSAT (Very Small Aperture Terminal).

O Emitec é uma iniciativa pioneira no Nordeste e já alcança 14.686 estudantes com aulas transmitidas via satélite e em tempo real. Implantado em 2008 pela Secretaria da Educação da Bahia, o projeto garante às populações do campo, nas localidades mais distantes, o acesso à educação no lugar onde vivem.

Atualmente, o Emitec conta com salas de aula instaladas em 210 localidades, de 93 municípios. Em cada classe, há um mediador capacitado para tirar as dúvidas dos estudantes e ajudar nas tarefas. O caráter inovador do projeto e a possibilidade de longo alcance tornaram o programa referência para outros estados do Nordeste. Equipes do Piauí e Ceará vieram à Bahia conhecer a tecnologia aplicada. Além disso, o Emitec foi premiado na Categoria Inovação do Prêmio de Excelência ABED Pearson em Educação a Distância (EaD), ficando em 3º lugar entre projetos de todo o país.

O projeto também deu origem ao livro Educação Básica com Intermediação Tecnológica: tendências e práticas – volume I. A obra compreende experiências didáticas desenvolvidas entre 2010 e 2011 pelo corpo docente e pedagógico do Emitec.

Mais escolas para comunidades indígenas, quilombolas e assentamentos

A Bahia tem a maior população rural do país. O Governo do Estado vem investindo para garantir o acesso das populações rurais à educação especialmente com a construção de escolas. Do total de 104 escolas construídas pelo governo, 60% foram na zona rural, chegando a comunidades indígenas, quilombolas e assentamentos.

Além disso, o Estado ampliou em 272% o investimento em transporte escolar nos últimos cinco anos, saltando de R$ 9,6 milhões em 2006 para R$ 35,8 milhões em 2012 (atendendo a 140 mil estudantes de localidades rurais). As metodologias são apropriadas para as populações do campo, com livros e materiais didáticos específicos para comunidades indígenas e quilombolas.