Fora da faixa etária exigida pelo mercado de trabalho, um grupo de mulheres do bairro do Uruguai, em Salvador, criou, há dez anos, a Associação das Costureiras de Itapagipe (Ascosi). Lideradas por Marlene Assis e Vera Lúcia Cruz, essas mulheres da península itapagipana trabalham por “facção”, onde se corta e se costura a grosso, produzindo fardamentos de todos os modelos, principalmente, para vestir os operários da construção civil do estado.

Segundo elas, a qualidade das roupas está diretamente relacionada com a costura que realizam e tem que ser apropriada ao tecido e à finalidade da peça. Na atividade elas utilizam maquinário com regulagens corretas para a montagem das peças, considerando as especificações da roupa e esta tem sido a garantia de qualidade do trabalho.

As costureiras encontraram na economia solidária um novo “nicho de mercado” com a associação. Várias delas, que formam a Ascosi, possuem mais de 20 anos de prática de costura e algumas são oriundas do antigo “polo têxtil” criado na região e passaram anos exercendo funções dentro de uma cadeia produtiva fabril.

“Hoje, estamos com dez associadas, produzindo para hospitais, empresas da construção civil e, nos períodos de festas, chegamos a trabalhar com fantasias”, destaca a presidente da associação, Marlene Assis.

Injeção de ânimo 

A queixa do grupo é contra os donos das fábricas de confecções. “Eles nos oferecem trabalho somente no regime de facção. E nos paga muito pouco pelo que produzimos”, diz Vera Lúcia.

Mais amadurecida, a associação planeja o seu crescimento. “Faz tempo que estamos nessa lida. Começamos a Ascosi há dez anos, com 22 associados. Registramos o grupo com 14 pessoas e, por algum tempo, chegamos a ficar com apenas duas”, diz a presidente Marlene Assis.

A Ascosi aposta firme na economia solidária como alternativa de ganho produtivo. Outro mote das conversas das costureiras de Itapagipe é a qualificação. “Já tomamos cursos pelo Senai e estamos agora sob a tutela de uma incubadora da Universidade Católica do Salvador (Ucsal), aprendendo organização”, disse Marlene.

Padrão de qualidade

Todas sabem o quanto é importante a realização de um bom trabalho. “No conceito de qualidade do serviço, a avaliação de uma boa peça tem como lastro a simetria e a aparência. Este é o primeiro padrão de qualidade para qualquer pessoa visualizar uma boa roupa”, explicam as representantes da entidade.

As costureiras passam horas inteiras com tesoura, agulha, linha e dedal na mão. No intervalo desta rotina semanal, ainda têm tempo para ir fazendo outras costuras para si ou familiares. Agora, por exemplo, produzem artigos para o Natal.

Das tarefas diárias, cortar tecidos é uma grande responsabilidade. “Porque a base da costura é o corte. E se a peça não for bem cortada não há como voltar atrás”. Apesar de ser por vezes estressante, elas dizem que cortar tecidos acaba, também, por ser a parte mais interessante do ofício: “Porque não podemos errar nunca!”.

Admitem também, que depois que finalizam o trabalho, tem tantas outras coisas para fazer em casa, que o corte e a costura acabam sempre por ficar para segundo plano. A presidente lamenta que o maior problema que o grupo enfrenta é que muitos dos seus integrantes já abandonaram a associação. E nem todas se entregam totalmente às tarefas, por sempre estarem atrás de algo melhor.

Esta questão do associativismo se espraia por outras linhas, que vão desde o uso de ferramentas de gestão, falta de infraestrutura para produção contínua e ausência no grupo de alguém que entenda e realize “design de produtos”. O grupo está apostando firme em Daiana Santos, de 23 anos, que tem um perfil mais arrojado. “Talvez, ela por ser jovem, poderá ser a nossa futura estilista”, antecipa Vera Lúcia.

Costureira à moda antiga está sumindo

A Associação das Costureiras de Itapagipe (Ascosi) tem a sede localizada na rua 6 de Janeiro, 168, no bairro do Uruguai (Cidade Baixa) e atende pelo telefone (71) 3313-4041.

Ninguém sabe ao certo quando o homem primitivo começou a usar roupas, mas estima-se que a necessidade de cobrir o corpo para proteção ou para demonstrar superioridade entre os inimigos tenha iniciado o processo, há milhares de anos. As roupas que as pessoas usavam, usam e irão usar passam por uma – ou mais – costureiras.

São elas, afinal, que dão forma, que inventam o modelo ou que montam a ideia de um estilista. Disso, nem as roupas industrializadas podem fugir: é necessária uma mão humana para iniciar ou finalizar o processo de confecção das vestimentas.

A costureira que antes trabalhava em casa, e copiava modelos de revistas ou da televisão, está sumindo. Tudo por causa das mudanças no mercado de roupas, como a produção em série, que diminuiu os preços e agilizou o consumo, pois é mais rápido provar e levar a peça para casa. Trabalhar só com costura não rende mais dinheiro. Toma tempo e é trabalhoso. Perde-se muito tempo costurando, medindo e fazendo a roupa, além de ter de correr atrás dos aviamentos.

Aquela costureira de antigamente não tem muitas representantes na profissão, como tinha no passado. Outro motivo que pode ter feito elas sumirem foi a grande oferta de roupas baratas feitas por confecções. Antes a roupa feita por uma empresa era mais cara que a produzida por uma costureira. Com a disseminação das fábricas de confecções, as roupas prontas ficaram mais baratas, o que fez diminuir o movimento das costureiras, contribuindo para que muitas deixassem a profissão.