Na América Latina, 81 milhões de pessoas são afrodescendentes, sendo que mais de 24 milhões são jovens. Embora representem uma parcela expressiva da população latino-americana, os negros ainda enfrentam o impacto da discriminação racial. Para discutir formas de combate ao racismo, implantação políticas públicas efetivas de reparação para as populações afrodescendentes no Brasil e em países latino-americanos e africanos, está sendo sediado em Salvador o Encontro Iberoamericano do Ano Internacional dos Afrodescendentes (Afro XXI).

A abertura oficial do evento, realizada nesta quinta-feira (17), no Centro de Convenções da Bahia, contou com as presenças do governador Jaques Wagner, de Enrique Iglesias, que comanda a Secretaria Geral Iberoamericana (Segib), entidade parceira do governo brasileiro na organização do evento. Participaram também a ministra de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, e a embaixadora Vera Machado, subsecretária de Assuntos Políticos do Itamaraty; Juca Ferreira, embaixador da Segib para o Ano dos Afrodescendentes.

O evento internacional ocorre após 10 anos da Declaração de Durban, conferência mundial contra o racismo ocorrido em 2001 na África do Sul. Para a ministra Luiza Bairros, as discussões iniciadas em Durban foram importantes para a agenda racial no Brasil e na América Latina. De acordo com ela, entre os avanços brasileiro estão a criação de órgãos institucionais que visam a promoção da igualdade, o Estatuto da Igualdade Racial, políticas de saúde integral da população negra.

“O Brasil se tornou uma referência para a América Latina do ponto de vista das políticas que adotamos, das ações afirmativas, inclusive o acesso ao ensino superior”, afirmou Luiza Bairros.

Na Bahia, o governador destacou como principais conquistas ensino da história africana nas escolas públicas; o reconhecimento da festa da Irmandade da Boa Morte como patrimônio imaterial da Bahia e da capoeira como patrimônio cultural brasileiro; a criação da Secretaria de Promoção da Igualdade, o fortalecimento do turismo étnico-religioso, entre outros. “Todas estas ações visam a promoção da igualdade e o combate ao racismo. Esta é uma luta que passa pela educação, conscientização e tenho certeza que vamos ganhar esta batalha”, enfatizou.

Carta de Salvador

Nesta quinta (17) e sexta-feira (18) acontecem mesas temáticas, reunindo especialistas, pesquisadores e gestores públicos. Entre os assuntos debatidos estão enfrentamento ao racismo e a desigualdade; marcos legais anti-racistas e acesso à justiça; juventude e garantia de direitos, e religiões de matriz africana.

O resultado desses três dias de debates será apresentado aos chefes de Estado, que se reunirão no sábado (19), no Palácio Rio Branco, para a elaboração da Carta de Salvador, documento final do evento com diretrizes para políticas públicas das nações envolvidas.

Segundo o embaixador Juca Ferreira, a Carta de Salvador objetiva definir para os próximos dez anos ações conjuntas de promoção a igualdade e de combate ao racismo. Ferreira explica que no documento haverá propostas de acesso, à educação e à justiça; realização de censos e estatísticas étnico- racial, garantindo aos governos o conhecimento sobre a realidade sócio-cultural da população e negra.

Além da Carta, no último dia do encontro, os chefes de estados e representantes de governos, como chanceleres e ministros vão firmar uma declaração assumindo um trabalho conjunto para avançar a igualdade racial na América Latina.

Publicada às 10h10
Atualizada às 14h25