Os jovens afrodescendentes da América Latina e do Caribe são um dos grupos populacionais que enfrentam as maiores desvantagens, exclusão e discriminação. A informação consta do relatório ‘Juventude afrodescendente na América Latina: realidades diversas e direitos (des)cumpridos’, lançado nesta sexta-feira (18), em evento paralelo ao Encontro Ibero-americano do Ano Internacional dos Afrodescendentes–Afro XXI, que acontece até este sábado (19) em Salvador.

Lançado pelo Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa), o documento – baseado nas informações de nove países pesquisados – estima que na América Latina vivam em torno de 24 milhões de jovens afrodescendentes, de um total de 81 milhões de pessoas de ascendência africana.

Com mais de 22 milhões, o Brasil é o país que reúne a maior quantidade de jovens afrodescendentes, seguido pela Colômbia, Equador e Panamá, que, juntos, registram cerca de 1,4 milhão.

Tripla exclusão

De acordo com Marcela Suazo, diretora para a América Latina e o Caribe do Unfpa, um dos desafios em matéria de políticas para afrodescendentes é a falta de informação estatística desagregada, sistemática e confiável sobre o segmento. “A disponibilidade desses dados permitiria evidenciar as iniquidades enfrentadas por este grupo populacional e, portanto, contribuir para a formulação de políticas afirmativas para os afrodescendentes”.

Ela enfatiza que a desigualdade que caracteriza a América Latina – a região de maior desigualdade do mundo – se reflete também na juventude afrodescendente, que sofre uma tripla exclusão: étnica/racial (por ser afrodescendente), de classe (por ser pobre) e geracional (por ser jovem). Além disso, as mulheres afrodescendentes sofrem processos de exclusão e discriminação de gênero.

Resultado de esforço conjunto do Unfpa e da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal/Celade), o relatório é o primeiro a apresentar um panorama regional das dinâmicas populacionais e dos jovens afrodescendentes e proporciona informações sobre a sua situação em matéria de acesso aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, educação e emprego.

Políticas afirmativas

Os dados sugerem também a existência de diferenças na implementação dos direitos de saúde reprodutiva entre as jovens afrodescendentes. Entre elas, a maternidade em idade precoce é tanto ou mais elevada do que nas demais jovens. A percentagem de jovens que não estudam nem trabalham na região são muito altas e, na maioria dos países, a juventude afrodescendente se encontra entre os mais excluídos.

A situação dos afrodescendentes na região tem cobrado maior visibilidade nos últimos anos, graças ao aumento das organizações que defendem seus direitos em níveis regional e nacional e à criação de instituições governamentais encarregadas dos assuntos relativos aos povos de ascendência africana. O estudo propõe o investimento e o fortalecimento das políticas afirmativas para a juventude afrodescendente, como o caminho para superar as iniquidades, a discriminação e a exclusão.

O Encontro Ibero-americano do Ano Internacional dos Afrodescendentes – Afro XXI prossegue até este sábado e é uma realização do governo brasileiro, por meio da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE), e do Governo do Estado da Bahia, através das secretarias de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), de Cultura (Secult), e das Relações Internacionais e da Agenda Bahia (Serinter), associados à Secretaria-Geral Ibero-Americana (Segib). A parceria para a realização do Encontro inclui também a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid), e a Organização das Nações Unidas (ONU).