Os produtores de abacaxi do município de Coração de Maria encontraram na variedade imperial a esperança de retomar o cultivo na região. Nos anos 70, eles chegaram a liderar a produção na Bahia, mas, devido à fusariose – fungo que deprecia o fruto –, muitos desistiram da cultura.

Hoje, com a variedade imperial, desenvolvida pela Embrapa e incentivada para plantio pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), responsável pela Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) pública, eles retomam a produção de forma orgânica e economicamente mais vantajosa.

De uma maneira geral, a fusariose pode infectar cerca de 40% das mudas e causar a morte de 20% de plantas no campo, antes de atingir a fase de floração. Nos frutos, a porcentagem de infecção pelo fungo varia com a época de produção, podendo chegar a 80%, ou mais. Foi essa doença que fez com que José Santana, 54 anos, desistisse da cultura e passasse a cultivar mandioca.

“A gente gastava para fazer até duas aplicações de pesticidas por mês e no final não colhia nada. Tentei por três anos, até ver que não tinha mais jeito”, contou. Santana vendia sua produção na feira de Cruz das Almas e conseguia um rendimento maior com o fruto. “Não quis mais arriscar. A mandioca rende menos, mas é um cultivo certo”.

Ainda abatido com os prejuízos acumulados com a variedade pérola, comum na região, ele vem conversando com os técnicos da EBDA, que apresentam as vantagens da nova variedade, na tentativa de levar o agricultor a superar as lembranças de prejuízos com o antigo plantio e reinvestir na cultura.

Já Crispim Batista, 30 anos, aposta no abacaxi imperial e no cultivo orgânico atrelado a ele. “A nossa esperança é esse novo jeito de cultivar. Além de todas as vantagens, consigo retirar cinco sementes por pé, o que vai ajudar a ampliar a plantação a cada safra”.

Batista e sua família cultivavam milho, feijão e mandioca na localidade de Neto. Observando o avanço de algumas propriedades que aderiram ao cultivo do abacaxi imperial, resolveu, há sete meses, investir na cultura, seguindo as orientações técnicas dos profissionais da EBDA.

“O sistema agroecológico tem muitas vantagens, inclusive do ponto de vista econômico. Buscamos, sobretudo, a interdisciplinaridade no contato com esses agricultores, com uma visão social, espacial e sustentável do processo produtivo”, destacou o coordenador do Programa de Ater Agroecológico de Feira de Santana, Daniel Dourado.

A produção agroecológica contempla a diversificação de culturas, a visão sistêmica do cultivo e um processo produtivo mais econômico. Além disso, contempla a produção de mudas, adubo e insumo a partir da própria planta.

Na localidade de Camboatá, encontra-se um dos casos de maior sucesso da região. Fred Rios iniciou a plantação, há nove anos, com 700 pés. Hoje, com 400 mil pés, ele já conseguiu exportar para a China e vender parte da produção para o mercado paulista, que paga até R$ 25 por uma caixa com seis frutos.

“O cultivo orgânico é muito vantajoso. Cada hectare custa apenas R$ 0,30, sendo que 70% desse valor é destinado à mão de obra”, afirmou Rios, que vende cada unidade a uma média de R$ 1,70 e pretende chegar aos cinco milhões de pés em dois anos.

“O abacaxi imperial chegou com força no mercado. Ele tem muitas vantagens, mas a principal é ser livre de agrotóxicos”, declarou o produtor. Além de comercializar o fruto, Rios lucra com a venda de mudas. Através do seccionamento do caule, obtém cerca de 30 pés por planta e consegue vender por até R$ 2 a unidade.

Sem uso de fungicidas

O abacaxi imperial é um híbrido resultante do cruzamento das variedades perolera e smooth cayenne, obtido em 1998 por pesquisadores da Embrapa. Nas avaliações realizadas em distintas regiões produtoras do Brasil, esse híbrido se destacou dos demais genótipos, por ser resistente à fusariose, o que dispensa o uso de fungicidas e por produzir frutos com polpa amarela, elevado teor de açúcares e excelente sabor nas análises sensoriais. Outra vantagem é a ausência de espinhos nas folhas, além da maior resistência.

Após a colheita, o fruto mantém sua consistência por até 20 dias, enquanto a variedade pérola, por exemplo, deve ser consumida em cinco dias. “Estamos assistindo diversas propriedades que obtiveram sucesso com o cultivo do imperial. O não uso de pesticidas, além de reduzir os custos de produção, é importante para a saúde do agricultor, pois muitos na região sofrem com o excesso de agrotóxicos aplicados na lavoura do abacaxi pérola, que tem alto grau de infestação pelo fungo, e ainda do consumidor, que passa a ter um produto mais saudável”, explicou o técnico da EBDA, engenheiro agrônomo Expedito Santana.