O que era para ser apenas um evento cívico em homenagem à definitiva independência brasileira de Portugal, ao passar dos anos, o Cortejo ao Dois de Julho cresceu, manteve os protocolos, porém sem muitas formalidades e se tornou uma das principais manifestações artísticas, culturais e ainda um momento para engrossar o coro em prol de causas sociais, direitos e deveres dos cidadãos baianos.

Além de celebrar os 189 anos da vitória baiana e brasileira que culminou na expulsão das tropas portuguesas, milhares de pessoas, entre lideranças religiosas, profissionais liberais, políticos, professores, estudantes, jornalistas, sindicalistas, acompanham as duas carruagens com as imagens do caboclo e da cabocla. Durante todo o percurso que vai da Lapinha ao Pelourinho (manhã) e da Praça Municipal ao Campo Grande (tarde), eles apresentam ideias e defendem ideais.

Vestido com um chapéu e um colete, ambos confeccionados com lacres retirados de latinhas de alumínio, o policial militar Jeferson Dias aproveitou para defender o uso de material reciclável na confecção de roupas e adereços. “Precisamos preservar a natureza, precisamos agir com sustentabilidade. A natureza precisa da gente e a gente precisa da natureza”.

Personagens fundamentais da história da independência baiana e brasileira, entre eles, João das Botas, general Labatut, o Caboclo e a Cabocla, representando os índios, foram representados por todo o percurso. Crianças, adultos e idosos se caracterizaram em homenagem aos guerreiros que atuaram na batalha.

Há 11 anos, Romilda Anunciação dos Santos se veste de Maria Quitéria (personagem que se disfarçou de homem para participar da batalha), para participar do cortejo que é Patrimônio Cultural da Bahia. “É muito importante que nós brasileiros tenhamos patriotismo. O 2 de Julho tem que ser comemorado em todo o Brasil”, defende.

Dificilmente quem vai para o desfile não acena com as pequenas bandeiras do Brasil e os cataventos verde e amarelo (Brasil) ou vermelho, azul e branco (Bahia), os preferidos das crianças. Com os preços acessíveis, entre R$ 1 e R$ 5, a variedade de produtos impressiona e ajuda a colorir o cortejo.

Por esta razão, tem quem prefira lucrar com o desfile. É o caso do vendedor ambulante Jucelino Medeiros, que fez sucesso com o brinquedo para fazer bolas de sabão. “É uma oportunidade pra gente ganhar um dinheiro extra. Estou vendendo bem, graças a Deus”.

O casal de turistas Teresa e Bob Foxworthy saíram do estado da Virgínia, nos Estados Unidos, para passar férias na capital baiana. “Estamos gostando muito do cortejo. É um prazer participar de um dia tão importante para a Bahia”, disse Bob, que fez questão de registrar com câmera fotográfica os grupos percussivos que subiam a ladeira do Pelô.

Ao invés de passar o último dia do feriadão em casa, pessoas de todas as idades optaram por prestigiar o desfile. Em alguns pontos era possível observar grupos de famílias se divertindo com o evento. “É uma tradição nossa que passa de pai pra filho. Como pais temos a obrigação de trazer nossos filhos. O desfile é o melhor momento para isso”, declarou o encarregado de limpeza Marcos Zacarias, que levou a filha e o neto ao Pelourinho para assistir a chegada do cortejo.

Durante a tarde, parecia que a religiosidade ganhou ainda mais força. As mães-de-santo que já haviam desfilado pela manhã, ganharam reforço de babalorixás que deram banho de folhas em quem passou pela Praça Municipal. “Para afastar todo o mal e dar axé neste dia tão especial”, afirmou Roberto Carlos Capistrano dos Santos, babalorixá.

Além das dezenas de filarmônicas, fanfarras e bandas, no período vespertino também teve espaço para encenação teatral. Anderson Moreira, membro da Associação Brasileira dos Amigos das Fortificações Militares, compareceu vestido de Dom Pedro I, inclusive com o mesmo desenho de barba. “Foi ele quem deu início à separação do Brasil. Estamos aqui para ajudar a manter viva esta história. Somos um museu vivo”, explicou Moreira, que também estava acompanhado de soldados caracterizados à época.

Ao som dos hinos Nacional e ao Dois de Julho – decretado hino oficial da Bahia, uma multidão aplaudiu a chegada das imagens do caboclo e da cabocla na Praça Dois de Julho, no Campo Grande. No local, está um monumento de 25 metros de altura com todos os símbolos que marcaram a conquista da liberdade baiana.

O hasteamento das três bandeiras (Brasil, Bahia e Salvador) pelas autoridades, entre elas, o governador Jaques Wagner, e o acendimento da pira realizado pelo atleta de tiro do Exército, major Iosef Áreas Forma, encerraram a programação.