Encontro em Juazeiro debate papel das políticas públicas no combate à fome
Foto: Adriel Francisco/BSF

A Câmara Municipal de Juazeiro sediou a audiência pública ‘Fraternidade e Fome’. O encontro aconteceu nesta quarta-feira (25) e destacou a importância das políticas públicas no combate à fome. Participaram da audiência o coordenador do Bahia Sem Fome, Tiago Pereira, o bispo diocesano Dom Beto Breis, a representante da Pastoral da Mulher, Fernanda Lins, o representante do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional da Bahia, Moacir dos Santos, o assessor das Pastorais Sociais da Diocese de Juazeiro, Roberto Malvezzi, além do secretário de Agricultura do Estado, Wallison Tum.

Sobre o Programa Bahia Sem Fome, que na semana passada foi enviado à Assembleia Legislativa para ser apreciado e, em breve, virar uma política pública, Tiago faz questão de reafirmar que ele busca matar não apenas a fome de comida. “O Bahia Sem Fome visa assegurar o direito humano à alimentação, mas não só isso. A sociedade tem fome também de saúde, educação, direitos e quer dignidade”.

Segundo Dom Beto, o lema da Campanha da Fraternidade deste ano, “Dai-lhe vós mesmos de comer”, busca sensibilizar sociedade e Igreja para enfrentar o flagelo da fome, por meio de compromissos que transformem essa realidade. “O culto dissociado da solidariedade não agrada a Deus”, afirmou o religioso.

Na audiência foi debatida ainda a questão da feminização da fome. O problema se refere à incidência maior de insegurança alimentar nos lares chefiados por mulheres.

De acordo com Fernanda Lins, hoje no Brasil 18% dos lares chefiados por mulheres vivem situação de fome, contra 10% dos chefiados por homens. Além disso, há um recorte de raça que sobrepõe o gênero, uma vez que 65% das casas comandadas por pessoas pardas e pretas convivem com algum tipo de insegurança alimentar no país. “A mulher numa casa é a última a comer. Ela prioriza os filhos, se tiver companheiro, ela o alimenta e, se sobrar comida, ela come”, afirmou Fernanda.

Fome estrutural

De acordo com Roberto Malvezzi, os problemas estruturais do modelo agrário brasileiro estão diretamente ligados à situação de fome do país. Na luta do agronegócio contra a agricultura familiar, o primeiro concentra, historicamente, o crédito e as terras.

Este ano, por exemplo, apesar dos avanços, serão investidos R$ 370 bilhões no agro e R$ 70 bilhões na agricultura familiar. “Então, quem vai pro campo, prefere plantar commodities de exportação do que comida”, afirmou.

Ainda segundo Malvezzi, outro grande problema do agro, além de não produzir alimento, é contabilizar a comercialização de veneno como produção de riqueza. “Os negócios da terra não precisam produzir comida. Isso fica a cargo dos pequenos produtores”, destacou.

Fonte: Ascom/BSF