A construção de barragens subterrâneas, uma iniciativa da Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir) e que alia tecnologia simples e de baixo custo, vem despertando boas expectativas, um clima de entusiasmo e devolvendo a esperança de dias melhores às comunidades dos municípios do semiárido baiano. Até agora já foram construídas 19 barragens subterrâneas em Caculé, Rio do Antônio, Lagoa Real, Nova Soure, Nova Fátima e Casa Nova. A meta até o fim de 2010 é a construção de mais 31 barragens. O investimento total é da ordem de R$ 900 mil.

A receita é simples: a secretaria cede as retroescavadeiras, as prefeituras entram com o combustível, manutenção das máquinas e aquisição da lona, e as comunidades colaboram com a mão-de-obra em regime de mutirão.

O agricultor Osvaldo Ribeiro da Silva, presidente da Associação Comunitária de Lagoa da Pedra e Região, casado, dois filhos, que mora há 49 anos na comunidade de Lagoa da Pedra, no município de Caculé, não esconde sua satisfação com os resultados obtidos após a construção de uma barragem, que ocupa uma área de 2 hectares de sua propriedade.

Ele ficou muito feliz principalmente porque, depois de concluída a obra, a água aflorou à superfície do terreno. “Antes, a água descia direto, não empoçava. Agora está bom demais, com as terras molhadas desse jeito e todos no município estão querendo uma barragem igual”, comemorou.

Mesma opinião tem Izildino Silva Pereira, presidente da Associação dos Pequenos Produtores de Olho D´água, município de Rio do Antônio. Proprietário da fazenda Olho D´água, onde mora há 12 anos com a mulher e três filhos, ele já havia construído uma barragem de menor proporção há cerca de três anos. Agora, com a ajuda do governo, construiu outra, maior e mais bem estruturada, com 70 metros de extensão e cavada a uma profundidade de 2,60m. “Aqui no sertão a falta de água é muita e nessa nova barragem, construída pelo governo, pretendo cultivar muitas variedades de plantas e assim as coisas podem melhorar aos poucos”, afirmou o agricultor.

Tecnologia simples

Nos municípios do sudoeste baiano, as obras das barragens subterrâneas vêm sendo coordenadas pelo engenheiro agrônomo José Roberto Neves. “É uma tecnologia simples, de fácil construção e baixo custo, com resultados significativos para o desenvolvimento da agricultura do Nordeste. Estamos estendendo essa atividade para outros municípios para que possamos levar essa tecnologia ao acesso do pequeno produtor”, explica o engenheiro.

A barragem subterrânea é construída no sentido transversal ao lençol freático. Abre-se uma vala com a retroescavadeira, variando entre 50 a 70 metros de extensão, em média, com profundidade oscilando entre 2m a 2,60m até a camada impermeável do solo, que é denominada de piçarra. Depois é colocada uma lona de dupla face com no mínimo 200 micra de espessura, para dar uma durabilidade maior – há registros de que uma obra dessa natureza pode durar mais de 30 anos -, sendo depois feita uma compactação dessa lona, devolvendo a terra tirada do solo.

A lona irá segurar a água que infiltra no terreno e o produtor garantirá o plantio tanto no período chuvoso como no seco. O principal objetivo da barragem, segundo José Roberto, é elevar o lençol freático, umedecendo uma área por um período maior. “Na região, temos quatro meses de chuva e oito de seca. Com a barragem podemos ampliar esse período úmido por mais seis meses, garantindo alimento para essas famílias de pequenos agricultores”, explica.

São gastos em média dois dias para a construção de uma barragem subterrânea de 60 a 70 metros de extensão, o que facilita fazer várias barragens em períodos curtos de tempo. As principais vantagens são a acumulação de água com reduzida evaporação, menor risco de salinização a liberação de áreas agricultáveis, normalmente cobertas com água nos reservatórios de acumulação superficial. Outro ponto positivo é o baixo custo exigido para a construção, que oscila entre R$ 1.500 a R$ 1.800.