Comunidades de gerazeiros, povos que habitam a região dos Gerais, no cerrado baiano, participaram do terceiro Encontro Pelas Águas de 2009, em Santa Maria da Vitória, no oeste do estado, para debater os problemas que envolvem rios e bacias do local onde vivem.

Primeiros a serem atingidos pelos impactos socioambientais da agroindústria e dos efeitos das mudanças climáticas, os gerazeiros puderam, durante o evento, afirmar as suas raízes de povo tradicional e criar redes de integração.

Cristiano Guedes é do município de Formosa do Rio Preto, ribeirinho do rio Ladeira, que também tem povos quilombolas. “Aqui a gente encontra uma diversidade de culturas e mantém contato com pessoas de outros municípios. É um meio de interação que pode gerar bons frutos”, avalia.

Para Emílio Alves, gerazeiro do Ananás, já é possível sonhar com um futuro melhor. “Eu amo os gerais e agora eu criei fé nesse Encontro. Se o Governo descobriu que a gente pode se desenvolver, o nosso futuro pode ser mais ou menos como a gente quer e a gente vai chegar lá”, anseia.

O evento, realizado nos dias 23 e 24 deste mês, faz parte de uma série de reuniões temáticas com a escuta dos problemas socioambientais que afligem a população. O objetivo é ampliar o diálogo do Governo da Bahia com povos e comunidades tradicionais para o fortalecimento da gestão participativa das águas. O próximo Encontro pelas Águas será nos dias 16 e 17 de outubro, no município de Itiúba, com as comunidades de fundo de pasto.

Cultura

De acordo com o diretor-geral do Ingá, Julio Rocha, o Encontro Pelas Águas representa a oportunidade dos gerazeiros ocuparem espaços de democracia e de fortalecimento da cultural local. “Nós precisamos avançar na perspectiva sustentável para os gerais. Precisamos pensar um modelo de desenvolvimento que englobe a qualidade de vida, a sustentabilidade e que reconheça e fortaleça a auto estima e a cultura dos gerazeiros”, defendeu.

Os gerazeiros de mais de 14 municípios baianos – dentre eles São Félix do Coribe, Tabocas, Santana, Canápolis, Serra Dourada, Ananás, Barreiras, Formosa do Rio Preto, Cocos, Correntina, Coribe, Luiz Eduardo, Santa Maria da Vitória – participaram de uma intensa jornada de atividades para discutir, de modo democrático e participativo, a situação dos rios da Bahia, especialmente os rios da bacia do Corrente, Rio Grande e do Rio São Francisco, que cortam o oeste baiano.

Durante a plenária, Rocha ressaltou o enfoque em atenção às comunidades de gerazeiros presentes. Segundo ele, o Governo do Estado já levou a dois milhões de baianos o acesso à água, por meio do Programa Água Para Todos. “É um marco nesta gestão, que tem como prioridade aprofundar a nossa relação com as comunidades tradicionais que tanto precisam de acessibilidade hídrica”.

O diretor Administrativo e Financeiro do Ingá, Sóstenes Florentino, disse que o encontro com os gerazeiros vai propiciar uma política definitiva com esses que foram historicamente esquecidos dos processos de decisão. “Esse é o momento para se construir uma nova história para o futuro. Fazer uma política de gestão participativa requer passar por muitas dificuldades e muitas etapas, mas nenhuma que não possamos superar”.

A plenária estava formada por representações dos poderes municipal, estadual e federal, de instâncias de participação social e sociedade civil.

Baianos elaboram Carta pelas Águas com eixos temáticos discutidos em reuniões

Os participantes do Encontro pelas Águas integraram grupos de discussões para a elaboração da Carta Pelas Águas. Eles discutiram eixos que trabalharam os temas Combate à Desertificação e Mudanças Climáticas, Revisão da Política Estadual de Recursos Hídricos, Controle Social e Instâncias de Participação, Água e Políticas Públicas, Água como Direito Ambiental e Direitos Humanos e Fundo Estadual de Recursos Hídricos.

O documento será entregue ao Governador Jaques Wagner com todas as demandas do segmento. Eles também elegeram o Conselheiro das Águas, que tem o papel de acompanhar todas as demandas registradas nas Cartas Pelas Águas dos Gerazeiros.

A abertura do evento foi realizada na quarta-feira (23), no Centro Social de Múltiplo Uso Enéas Carvalho. Após exibição de vídeos, o artista local Fred Rochael encenou um monólogo aplaudido por todos os presentes.

Foram lançados os Anais do Seminário Olhares Sobre a Revitalização da Bacia do Rio São Francisco, publicação que leva à sociedade as contribuições e mediações de conflitos realizadas pelo Grupo de Trabalho do Comitê do São Francisco, composto por diversas secretarias do Estado.