Em meio a um grupo quase totalmente formado por jovens, uma senhora chama a atenção. Com a camisa do II Encontro da Rede de Centros Digitais de Cidadania (CDC) por cima do hábito branco, Irmã Terezinha de Sá Barreto chegou ao Sesc-Piatã para levar suas experiências com a inclusão sociodigital em Quijingue, município com o segundo mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Bahia.

“Nós somos um Centro sem fronteiras. Recebemos espíritas, católicos, praticantes do candomblé sem nenhuma diferença. Nosso monitor, José Carlos, é evangélico e trabalha voluntariamente”, disse a freira da Congregação do Divino Mestre. Ela integra o grupo formado por mais de 800 pessoas, que chegaram de todas as regiões da Bahia para participar do chamado “encontrão” e mostrar a pluralidade do programa de Cidadania Digital. Eles socializam conhecimentos e vivências que apenas quem está no contato diário com os mais de 600 mil usuários, das quase mil unidades espalhadas por todo o estado pode ter.

O reforço das ações como a inserção no mundo do trabalho e a atuação ativa dos CDC nas comunidades estão entre os principais objetivos. A programação do evento conta com cursos diversos como manutenção de computadores, alimentação saudável e artesanato. Além disso, as comunidades trouxeram apresentações com música, dança e teatro. Na abertura, o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Eduardo Ramos, destacou o papel do programa ao fazer a ponte entre aqueles que estão no isolamento social. “É fundamental que gestores e monitores percebam a força dos Centros Digitais, que são espaços queridos, usados e demandados pelas comunidades. Ele contribui para que as pessoas tenham liberdade, que é o bem maior da humanidade e vem da educação”, destacou Ramos.

O “encontrão” também tem como foco, contribuir para que gestores e monitores tenham novos instrumentos para divulgar o trabalho que realizam. Para isso, cada um volta para casa com um kit com cartazes, panfletos e chamadas de rádio que serão distribuídos, permitindo que novos usuários se agreguem à rede.

Talento e entusiasmo

Outro ponto fundamental é permitir que novos talentos surjam para o setor de Tecnologia da Informação. Com uma média de salários iniciais acima de outros setores – entre R$ 2 mil e R$ 3 mil – as empresas de TI empregam um milhão de pessoas no país e devem abrir 400 mil novas vagas diretas e 800 mil em áreas correlatas nos próximos três anos.

Os cursos de informática básica ministrados nos CDC são porta de entrada e o primeiro contato que muitos dos usuários têm com o computador. “Nosso CDC fica dentro da Escola Municipal Batista Penil, em uma comunidade que tem poucos recursos. A presença do Centro abriu novas fronteiras e despertou o interesse não só dos estudantes, mas também dos pais, que já têm uma média de idade mais alta e começam a perder o preconceito de que informática é apenas para os jovens”, relata a gestora Lígia Correia. A presença física da unidade também tem contribuído para o combate à violência.

E a linha de frente do Cidadania Digital se mostra ativa e participante, mesmo entre alguns novatos como Jefferson Quadros, conselheiro e há um mês monitor do Centro de Bruno Bacelar, bairro popular de Vitória da Conquista, no sudoeste do estado. “Nossa comunidade recebeu muito bem a unidade e já vemos entusiasmo nos estudantes e também nos pais, que mudaram o comportamento frente às novas tecnologias”, disse Bacelar. O encontro teve também veteranos no Cidadania Digital, como Ivany Rocha, de Jiquiraçá, há quatro anos à frente do Centro. “A maior demanda da comunidade é por cursos, já que eles percebem a importância de estarem conectados com o mundo digital”.

Qualquer cidadão pode utilizar os CDC. Para isso, basta ir até uma unidade e se cadastrar. Cada usuário pode ocupar um dos computadores 30 minutos por vez. Se não houver fila, ele pode continuar utilizando a estação. Monitores estão capacitados para atender os usuários, oferecendo suporte e prestando orientações básicas. São mais de 14 mil acessos gratuitos às ferramentas de informática por dia.