Em 2010, dos 571 mil residentes na capital baiana que foram para a rua durante a festa, 478 mil brincaram e 93 mil trabalharam. Os dados são da pesquisa Suplemento do Carnaval – Infocultura nº 06, realizada em parceria pela Secretaria de Cultura do Estado (Secult) e a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), com base em questionário da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PEDRMS).

Os resultados foram divulgados, nesta quinta-feira (24), no lançamento do Infocultura, na sede do Conselho Estadual de Cultura (Campo Grande). Na abertura do evento, o secretário de Cultura, Albino Rubim, destacou a importância da pesquisa para apoiar a elaboração de políticas públicas. “A pesquisa também traz a informação relevante de que quase 60% das pessoas que pulam no Carnaval de Salvador são foliões pipoca, dado que deve ser considerado na hora da elaboração das nossas políticas”.

O diretor-geral da SEI, Geraldo Reis, representando o secretário do Planejamento, Zezéu Ribeiro, reforçou que “há interesse em dar continuidade à parceria estabelecida com a Secult, tendo em vista a importância de alimentar a interlocução da área estatística e econômica com a cultura”. A pesquisa, realizada pela terceira vez consecutiva, entrevistou 9.381 indivíduos residentes em Salvador, durante os meses de julho, agosto e setembro.

Perfil do trabalhador
De acordo ainda com a pesquisa intitulada ‘Carnaval 2010: Comportamentos dos Residentes de Salvador na Festa e suas Práticas Culturais’, “dos 93 mil que trabalharam (3,6% da população residente), a maior parte é homens (63,3%), negros (89,8%), com idade entre 25 e 39 anos (74,9%), tem segundo grau completo (46,9%) e renda familiar entre um e dois salários mínimos (39,1%)”.

“Temos uma situação de baixa escolarização do trabalhador e baixo nível de renda, fatores que devem ser observados para que, de fato, o Carnaval possa constituir uma alternativa significativa de fonte de renda para essa população”, afirmou a diretora de Pesquisas da SEI, Thaiz Braga, destacando que a principal ocupação encontrada, “como era de se esperar, foi a de vendedores ambulantes, constituindo 21,8% dos ocupados na festa”.

De acordo ainda com a pesquisa, “a maioria dos postos de trabalho relacionados à festa, embora cada vez mais inseridos no modo de produção capitalista, é marcada pela informalidade, atividades em tempo parcial e ausência de contratos de trabalho. Dentre os residentes em Salvador que atuaram no Carnaval no ano passado, 39% não possuíam qualquer tipo de contrato ou vínculo trabalhista”.

A pesquisa revelou também que durante a festa, o comércio tem um foco voltado para os produtos alimentícios, bebidas, adereços entre outros produtos. Merece destaque ainda os guardas, os policiais, vigilantes, seguranças particulares, motoristas de ônibus, cobradores, auxiliares de serviços gerais, faxineiros e lixeiros.

“A despeito do Carnaval de Salvador estar cada vez mais centralizado em grandes blocos, camarotes e arquibancadas, a festa movimenta não só a economia das empresas formalmente constituídas, mas também os pequenos negócios e, sobretudo, a economia informal representativa de grande parte das ocupações geradas na folia”, destaca Geraldo Reis.

Segurança
Os dados revelam também um cuidado com a segurança da festa e do folião, com um percentual de 11,7% para carcereiros, seguranças e vigilantes e 11% para guardas, oficiais e policiais. Os outros números são: 9,2% para motoristas, 6,2% para vendedores, 4,7% para compositores e músicos, 3,7% para atendentes de bar e lanchonetes, 3,5% para gerentes, 2% para enfermeiros e 1,7% para auxiliares de serviços gerais.

O maior número ficou com os ambulantes, perfazendo um total de 17%. A pesquisa revelou ainda que o rendimento real médio para cada trabalhador foi de R$ 737,02. A mediana encontrada foi de R$ 305 (valor encontrado ao dividir o contingente entre duas metades com maiores e menores salários – metade dos trabalhadores recebe até esse valor).

“O interessante dessa pesquisa é que temos um retrato da festa de maior valor cultural da cidade, a mais representativa, investigada sob a ótica dos residentes em Salvador e não sob a ótica do turista”, disse a pesquisadora da Secult, a economista Carlota Gottschall.

Quem não vai às ruas assiste televisão

A pesquisa Suplemento do Carnaval 2010 constatou que assistir televisão foi a principal prática cultural domiciliar das pessoas residentes em Salvador – 84,9% dos entrevistados afirmaram ter exercido esta atividade, independente de terem curtido ou não a festa. Dos que não participaram, 86,1% consideraram a TV como prática cultural mais relevante e 80,5% dos que foram às ruas brincar, também assistiram televisão. O Carnaval foi um dos estilos de programação mais vistos nesse período por 50,3% dos entrevistados, ficando atrás somente dos programas de jornalismo/entrevistas (58,4%), e na frente das novelas (48,3%).

A pesquisa apontou ainda que entre os que não participaram em nenhum dia da festa, 45% utilizou a televisão para ficar mais próximo da comemoração e entre os que brincaram, 75,9%, além de ter participado da festa, continuaram conectados pela televisão, assistindo o Carnaval como um dos programas preferidos.